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Uma noite no Metropolitan (teve Disclosure, inclusive)


Sempre que uma noite começa cheia de contratempos eu tenho dificuldade de interpretar se eu deveria me retirar de cena e tentar outro dia ou perseverar, seguindo aquela lógica meio bunda de que “não há recompensa sem esforço”. Porque pensem: tava chovendo cântaros, eu não tinha guarda-chuva, sexta-feira no Rio Janeiro, um aniversário pra ir antes e o diabo do show lá no Via Parque, no recém-antigo Metropolitan. Muitos teriam desistido.

Aliás, cês não acham lindo que o Metropolitan tenha voltado a ser Metropolitan? Tem uma coisa cíclica bonita nisso – estou ciclicamente velha. Tenho memórias do Metropolitan em todas as suas fases, de ATL à Citibank, passando por Claro. Lembro do primeiro show da Alanis, meus cabelos recém cortados iguais os dela, nenhuma pista de que um dia eu fosse vir parar no Rio pra sempre. Teve um show mais recente do Paramore, já na fase Claro eu acho, eu colocando All Star e t-shirt de banda pra sair num sábado à noite e você me olhando como se não me reconhecesse, perguntando se era aquilo mesmo. Era. Ainda é.

Passada uma hora e meia de trânsito num uber que no passado havia sido um táxi (amarelo, fedido, motorista mal educado), e depois de um pit stop que valeu apenas uma gin tônica e um abracinho de parabéns na amiga em Botafogo, busco minha cortesia na bilheteria e corro pra dentro antes que o Mc Donalds macule o meu já bem mambembe veganismo.

Em cinco minutos vejo duas minas com um look ótimo porém idêntico – calça skinny e segunda pele preta de gola alta e manga comprida, com top por baixo. “Vinte reais na Lupo, miga”. Faço uma anotação mental pra copiar e fico tentando imaginar qual instagramer famosa postou isso na semana passada. Faz um tempo que perdi a vergonha de me inspirar nas cocotas mais novas – elas têm mais tempo pra pesquisar essas coisas, certo? Eu preciso prover pra mim e pro cachorro.

Pago caro numa vodka com fusion (whyyyyyyy?) e vou circular na pista enquanto toca um DJ horrível qualquer, desses que fala no microfone pra animar a festa. Eis que se aproxima de mim um grupo de jovens carregando um camarote improvisado. Explico: cada jovem pediu umas duas vodkas com energético no copão, e aí o grupo pegou mais uns vários copos só com gelo. Olharam em volta, concordaram que o lugar estava bom e organizaram seu pequeno acampamento – copos no centro e bolsas em volta fazendo uma barreira, e só então começaram a fracionar a bebida. Muito espertos. Resolvo tirar uma foto porque achei muito sagaz/surreal, mas não percebo que meu flash está ligado e pago o maior mico. Tento abortar a missão no meio e acabo sem a foto e sem a dignidade. Paciência, vou dar outra volta.

Encontro amigos com o show já pra começar, Jah bless, e sou obrigada a responder pela quadragésima quinta fez a pergunta que não cala nunca neste mundo: “mas você veio sozinha?”. Minha resposta padrão, que não faz muito sentido mas mata a conversa, então funciona, é “aham, sou filha única né?” Sei lá gente – o show se dá entre a banda e eu. Não é imprescindível uma pessoa do meu lado pra fazer small talk. De qualquer forma, fico feliz de ter com quem dividir a graça de estar no Metropolitan, fumar um, rebolar e rir dos jovens tendo DRs e dando PTs.

Habemus Disclosure! Sinceramente? Fora a escolha de lugar péssima e o som baixo, que são culpa de quem produziu, fico com a sensação de que é mais legal ouvir a dupla na balada do que ao vivo. Das bandas similares é a pior que eu já vi ao vivo, e eu vi quase todas. Acho assim – ou é loud and clear que nem o XX ou é completamente diferente e mais calminho (mas com aquela sensação forte de ao vivo), que nem o Hot Chip. Não que seja ruim. A projeção é linda e funciona muito bem pra quem tá chapado (deve inclusive chapar quem está sóbrio) e uma ou outra música me faz querer fechar o olhinho e dançar, mas fica difícil com o grupo atrás de mim colocando os bafos da semana em dia, uns vários decibéis acima da música. À minha direita um casal novinho está discutindo desde o último hit.

Escolho uma música piorzinha pra fazer o meu costumeiro xixi de meio de show e presencio duas cenas bizarras: primeiro uma patricinha, dessas muito patricinhas, cheira o sovaco assim sem o menor pudor no meio do banheiro, pra dar aquele confere no desodorante. Achei tão curioso. Eu teria entrado na cabine, mas depois fiquei me sentindo preconceituosa e fútil. Tranquilo cheirar o sovaco em público, né? É? Me digam vocês. Depois, já na parte das cabines, uma novinha vomitava enquanto a amiga segurava seu cabelo. Não era nem meia noite. Num show, né – não é nem balada. Tem que estar muito obstinada mesmo pra já estar vomitando às onze da noite.

Volto pro meu lugar e descubro que a mina que estava chamando o raul no banheiro fazia parte do grupinho do camarote improvisado, que agora se encontra bem na minha frente. Um dos rapazes já está doidão e inconveniente. O casal segue brigando. Nós fumamos mais um e alguém aparece com uma cerveja, amém. Um amigo dos amigos puxa aquele papo sobre qualquer coisa que eu nunca sei se é educação ou flerte, e eu respondo qualquer coisa ainda pior. Só consigo soar inteligente se não tenho interesse nenhum no cara. Se tenho 0,2% de interesse já sai tudo errado. Minha falta de jogo de cintura espanta o rapaz, melhor assim – vai que toca a minha música e eu estou ocupada flertando.

Estamos nos encaminhando pro fim e os rapazes da banda anunciam que a turnê está acabando, e que eles vão tocar uma que não tocam há mais de um ano. Uma muito pedida. Fecho os olhinhos e peço pra Jah fazer valer os 100 conto de uber que eu gastei pra participar dessa bagaça. Minhas preces são atendidas. Help me lose my mind.

Ninguém sabe, mas o neon que eu vou mandar fazer aqui pra casa quando sobrar uma graninha é com essa frase: (you) help me lose my mind. Na minha cabeça, o sentido é duplo – um convite aos amigos para que me façam perder a cabeça e relaxar sempre, e uma afirmação sobre você, meu eterno interlocutor, que sabia apertar todos os meus botões. É uma frase bem pisciana, bem escapista – bem glub glub, como diria minha professora de astrologia.

Fecho os olhinhos e finalmente canto mais alto que as jovens fofoqueiras plantadas atrás de mim. Ao fim e ao cabo, pra ouvir uma das minhas músicas favoritas dos últimos anos, vale qualquer esforço – até uma noite no Metropolitan.

Na volta pra casa, ainda há tempo para uma uber-cantada:

“Foi bom o show? Queria ter ido, adoro Disclosure”

“Aham, foi ótimo.”

“Mas você tava sozinha?”

“Não, mas meus amigos vão continuar e eu tava com fome.”

“Quer parar em algum lugar pra comer?”

“Não, obrigada.”

Passados alguns minutos: “Gata, se você tiver entediada, quiser fumar um cigarro, só abrir o vidro. Até fumo com você.”

“Não, obrigada.”

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