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Fui ao show do Skank e surtei no Instagram


Semana passada fui emboscada a comparecer a um show do Skank. Não que eu não goste de Skank, mas é que eu jamais teria cogitado esse programa se um casal de amigos não tivesse proposto e avisado que eles tocariam apenas os três primeiros discos - o primeiro, homônimo, de 93; o Calango, da capa verde-periquito, de 94; e o famigerado Samba Poconé, da gostosa com o gorila na capa, que deixava os pais mais caretas de cabelo em pé nas festinhas americanas de mil novecentos and noventa e seis.

Garanti meu ingresso e o do boy no dia seguinte ao convite, serumano organizado que sou, e só fiquei sabendo que ninguém mais tinha comprado e os ingressos haviam esgotado faltando algumas horas pro show. Resolvemos ir sozinhos, eu mais meu conge, e também resolvemos subir pra gloriosa arquibancada superior do circo, onde ficam as pessoas de idade e os casais. Achei que fossem aparecer tios e tias até um pouco mais velhos que eu, mas não estava preparada pra quantidade de casais cinquentões que colaram no rolê. Surra de fofura extrema, até liguei pra minha mãe pra dizer que ela estaria adorando.

Bom. Fumamos nosso beck, tomamos nossas cervejas, e assim que o show começou eu fui acometida por uma crise nostálgica tão forte que estou sentindo as repercussões e desdobramentos dela até agora. Nostalgia não é uma conceito pacífico pra mim - estrito senso, eu detesto gente nostálgica. Aquela vibe do “ahhh mas porque na minha época.” Seu cu, parça. A sua época já era e é bom que você aprenda a viver na contemporaneidade. E a apreciar as delícias de estar aqui - porque há muitas, sempre há. Esse fla x flu geracional é muito chato, aliás, e não vou nem seguir falando disso porque é ficar chutando cachorro morto, ou arrombando porta aberta, como bem dizia um professor da faculdade.

Ao mesmo tempo, eu tenho uma memória imensa, boa mesmo, e que eu curto cultivar. Tenho a sensação de que a boa memória e a capacidade de escrever razoavelmente direitinho são meus grandes trunfos nesta vida, então fico aqui dizendo que fodasse e ao mesmo tempo keeping track de tudo que está acontecendo.

Enfim. A crise nostálgica que me acometeu via show do Skank veio no formato insight chapado - aquele que você anota antes de postar pra poder verificar sóbrio depois se faz algum sentido. Pensei com meus botões: poxa podia ter menos influencer e mais banda no mundo, né? Saudades desse negódi de banda. Banda de “rock alternativo”, risos. Assim entre zil aspas porque né, se eu quisesse debater o que é rock alternativo/indie eu voltava pra 99, e eu não tenho nem roupa e nem cacife pra isso. Mentira, roupa eu tenho sim.

To falando menos do tipo de som e mais de quantidade e da coletividade mesmo. Nos anos 90/00 gente curtia bandas, não indivíduos. E parece que tinha mais banda pra curtir - banda assim com vários integrantes importantes. Hoje é tão mais comum o artista solo, ou a gente só conhecer o frontman ou frontwoman da parada. Não que não exista mais, tenho até amigos que são, risos. Mas é diferente. É menos. Vide o Rock in Rio, que a cada edição ressuscita uma caralhada de banda véia.

A experiência contemporânea é mais solitária e individual mesmo, e eu amo - sou filha única e sempre curti demais estar sentada sozinha ao computador, conversando online no meu ritmo, com quem eu quiser. Mas aí fiquei pensando se essa cultura do influencer, do ser famoso na internet, não anda roubando jovens almas do submundo delicioso do rock’n’roll, desse rolê “bóra formar uma banda”. Porque né - nos anos 90 o computador não servia pra muita coisa, então as pessoas ainda se entediavam, ficavam sem ter o que fazer, o que ler, o que assistir, e aí acabavam se juntando na casa de um e de outro pra fazer uma jam - e assim surgia um Skank da vida.

Hoje é tão fácil produzir conteúdo só com o celular, só no pc, que fica meio irresistível. Outro dia conheci ao vivo uma mina foda de quem eu já era amiga virtual e ela me disse "adoro assistir teu programa" , aí eu fiquei whaaaaat?????? Cê não tá me confundindo não? Não. Ela tava falando dos meus stories mesmo. Então tá.

Ok que uma parcela do conteúdo produzido online é bem legal. Dá pra produzir arte nas redes sociais, dá pra propor muita coisa foda, mas a oferta é tanta, tão acachapante, que eu sinto inclusive que está acabando o espaço no meu HD interno pra processar tudo que eu consumo. Justo eu que tenho tanto espaço na memória, justo eu que cuido tão bem do meu HD. Queria consumir menos, guardar um pouco de gigas, mas é tão difícil.

Vem cá: quantas séries você assistiu este ano? Quantos stories de quantas pessoas você assistiu hoje? O que você sente quando está assistindo algum conteúdo que te interessa minimamente? Pra mim é o calmante mais forte que existe. Ou seja, é droga. Eu aplico séries e stories como quem aplica rivotril, e tudo bem, suave, cada um sabe de si e do que precisa pra sobreviver sem pirar em 2019. Mas me bateu uma baita bad.

Eu queria estar consumindo mais livros, mais shows ao vivo, mais coisas palpáveis, como nos anos 90. Até as drogas daquela época tinham mais contorno, risos. Infelizmente, não tive nenhum outro insight que resolvesse o primeiro. No mais, segui cantando as muitas músicas do Skank que estão gravadas no meu HD interno como tatuagem, e que permanecerão gravadas, ocupando um espaço que talvez eu até quisesse liberar, mas infelizmente ainda não inventaram um programa pra isso.

Quanto tempo até a gente começar a consumir compilações piratas zipadas por ano de stories de celebridades? Torrent > @KyleJenner > jan2019_December2019. Se já não circulam por aí esses arquivos. Eu assistiria. Tudo. Sem absolutamente nenhum critério. Talvez por isso me emocione até o show do Skank.

Como resultado dessa noite nostálgica, paguei algum mico nos meus stories e acabei cometendo uma grande nostalgia, que foi trocar de nick no instagram. Nick > nome próprio em qualquer década, não tem nem o que debater. Alias, não sei nem por que eu tinha cedido ao nome próprio, sendo que meu primeiro insta era um nick. @influencerentediada, muito que bem.

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